segunda-feira, 11 de junho de 2012

O QUE SERÁ AMANHÃ ?

De viagem a Brasília no final de semana pude viver uma prévia idéia do que teremos, já na Copa das Confederações, como ambiente de recepção a estrangeiros em nosso país. Será com certeza um espetáculo patético, a começar pelo atendimento nos aeroportos, assunto que tem sido para lá de comentado. Após meu desembarque em Brasília, passaram-se 45 minutos até que as primeiras bagagens de passageiros aparecessem na esteira. Perguntei a uma atendente da companhia aérea o porquê daquela demora, ao que ela respondeu passivamente que a companhia estava priorizando as conexões. Ou seja: uma explicação em nada satisfatória ou condizente com os avanços que permitiram ao mundo moderno, com regular conforto, o deslocamento aéreo de multidões de pessoas no menor tempo possível. Ao menos em outros países. Uma explicação ingênua, neste caso, pois a moça que deu a resposta em nada se sentiu envergonhada ou constrangida, muito possivelmente porque ela foi plantada ali naquela função sem conhecer o resto das atividades do aeroporto em que trabalha. Um autômato, um robô, como estes de call centers, que limitam-se a responder friamente com frases feitas, industrializadas e normatizadas em incompreensíveis manuais de imbecilidade. Dias depois, na volta a Porto Alegre quase fui impedido de embarcar porque reclamei com veemência da falta de sinalização com referência ao meu vôo. Na grande tela indicadora de embarques estava marcado o portão 10. Chegando lá, verifiquei que algumas pessoas se deslocavam para o portão E, num pavimento abaixo, mas não ouvi nenhuma informação sonora, o que obrigatoriamente deve acontecer, e em mais de um idioma, nestes casos. Então soube que um atendente da companhia teria passado pelo portão 10 e informado que o embarque seria no portão F. Assim, quem não estivesse ali no momento, ou quem não fosse privilegiado em receber aquela informação, teria que adivinhar que o embarque seria em outro lugar, pois mesmo depois da informação de cocheira o grande painel de embarques continuava informando a mesma posição. Mais tarde, já inseguro e de olho no portão F, ouvi uma voz que convidava os passageiros ao portão E, cuja placa sinalizadora, logo acima, indicava um vôo para Porto Alegre, mas este de outra empresa. Com dúvida, aproximei-me para verificar se era aquele o meu vôo, e soube que sim. Foi aí que reclamei sobre a placa sinalizadora do portão, totalmente em desacordo com os dados de meu vôo, e o atendente do embarque, autoritário, me disse que a placa não tinha nada a ver... E foi aí que eu perdi todo o resto de minha fleuma digna das tradições do Itamarati, e soltei a voz e o grito indignado frente àquela informação absurda; e foi aí que o atendente, segurando o meu ticket em sua mão, ameaçou: “Olha, cuidado !, assim o senhor não vai embarcar...” Disse isso umas três vezes em frente umas cinqüenta pessoas enquanto eu reclamava, e chegou a espichar o tom ameaçador do “Óóóóó’lha...”; e foi aí que eu tomei raivosamente o tíquete de sua mão e embarquei no ônibus, não sem antes chamá-lo estrondosamente de palhaço. Do que me arrependo. Apenas em parte. Alguém falou que eu poderia ser retirado do avião logo depois. Fiquei lá esperando – e torcendo – para que isso acontecesse. Daria um bom processo, e quem sabe, de lucro, alguma nota no Fantástico, o que sempre ajuda nesses casos. Agora eu pergunto o que teria feito um estrangeiro num caso desses. A quem recorreria ? E, se quisesse reclamar, como o faria ? O atendente que não conhece a função da placa sinalizadora sobre o portão, com mais certeza ainda não saberá se comunicar numa língua estrangeira básica, o inglês ou o espanhol. A poucos meses destes eventos espetaculares que receberemos, não houve treinamento nem para casos operacionais ordinários como os que relatei. Imaginem o que deve estar acontecendo com o ensino de idiomas às pessoas que receberão estrangeiros em nossos portos, porque idioma não se aprende em cursinho de um mês ou de um ano. Idioma é um conhecimento muito especial, que depende de vontade e aptidão, de treino e de tempo...que não temos mais. Mas o que mais me preocupa acerca de tudo isso, é que não penso serem estas questões e tantas outras passíveis de solução por este ou por aquele governo. Acho que este desleixo faz parte do caráter brasileiro, aquela história do jeitinho que no final tudo resolve, tudo vai dar certo. O ministro Mantega que o ensine, com aquela sua ovóide cara de pau. Há alguns anos vai periodicamente à televisão para anunciar com sua voz monocórdia as previsões econômicas mais otimistas para o semestre. Não sei onde ele encontra tanto ânimo para aquilo. Ao reaparecer, explica que as metas não foram atingidas por esta ou aquela razão, sempre de origem externa, isto é, nós não temos nada a ver com superveniências, afinal somos um país soberano. De certa forma, Mantega nada mais faz do que a humilde atendente da esteira de embarque do aeroporto de Brasília: como um títere, repete explicações incompreensíveis e inaceitáveis, mas que nossa condição impotente obriga-nos a aceitar passivamente. Quando ousa um pouco mais, o ministro nada mais faz do que o atendente do portão de embarque: ele desdenha e ameaça a economia mundial, passando por cima de regras internacionalmente aceitas como a placa sinalizadora do portão de embarque.

quarta-feira, 16 de maio de 2012

SOBRE COLIGAÇÕES

Somente com um pouco mais de idade a gente começa realmente a perceber o raciocínio dos políticos em geral, e este aprendizado se dá em especial nas proximidades das eleições, quando eles costuram coligações as mais esdrúxulas imagináveis, unindo a extrema direita e a extrema esquerda, por exemplo. Ideologia para quê ? E depois que são eleitos, deixam de cumprir não só as promessas de campanha, mas também os compromissos futuros assumidos sob juras de amor com seus parceiros de chapa, apenas visando ao próximo pleito dali a dois anos. Casamento para quê ? E com esta idade que a gente só adquire com o tempo ( que é o óbvio ululante ), produz-se simultaneamente um grande milagre que nos faz um misto de sábios e condescendentes com essas coisas da política, milagre este que instilado em anos e anos de surdas decepções terminam por nos tornar refratários a elas, pois os assuntos mais relevantes para nós passam a ser nossa saúde e nossos remédios, nossos netos e o futuro deles, a sobrevivência do planeta para que eles possam desfrutá-lo -, enfim, todas essas coisas que remetem a um futuro em que já não estaremos por aqui, mas que será o tempo de nossos legados genéticos, os quais, restando em nosso lugar, viverão as mesmas coisas que vivemos, pois tudo se repetirá, e que assim seja. Só por isso eu diria que acredito em Deus. Tenho certa pena de meus descendentes, mas a vida prova ser um milagre constante em cada um de nós. Um dia sempre conheceremos a razão de cada acontecimento. À medida que escrevo isso, confesso que me sinto um pouco inútil, para não dizer um redundante boring em relação ao leitor que me lê, independentemente da idade que ele possa ter. Mas esta sensação de impotência - e aqui está o número mais interessante do circo -, não se produz mais a cada notícia dessas coligações absurdas (para não dizer espúrias, em alguns casos), por exemplo. Na verdade ela constitui já um fóssil que passou a construir-se de forma velada e gradativa em minha memória de eleitor desde os dezoito anos até hoje. Não sei quantos foram os pleitos desde então, mas lembro que sempre votei acreditando em dias melhores, e que a cada vez formei minha opinião sobre políticos a partir de suas atitudes de vida pública, antes e depois das eleições, sempre - e principalmente - focando em suas manifestações externas de coerência. E nunca deixarei de votar. Direi que, malgrado a abertura deste texto, não estou decepcionado com a política, pois conheço gente muito séria nesta área, muita gente digna de respeito e admiração. Admiro profundamente políticos em quem não votaria apenas por suas opções ideológicas, diversas da minha, mas que apresentam uma postura exemplar, com início, meio e fim, não importa a bandeira que defendam e a forma como o fazem. Por vezes deparo com algum deles nas ruas, nos parques ou em recepções, e digo-lhes exatamente isso, sem nenhum constrangimento. Acho que aprendi a exercer uma sábia serenidade neste campo, inclusive sobre as coligações de que falo, porque em matéria de política, nada neste mundo vai mudar como eu gostaria. Se nem na Europa e nos Estados Unidos acontece, por que seria diferente aqui ? O apetite do poder político é um tema mundialmente conhecido, em alguns países mais do que em outros, e no Brasil, de forma muito especial. Deus e o diabo andam sempre juntos nessas horas.

Notas sobre a obra de Arthur Bispo do Rosário

Algumas notas sobre a obra de Arthur Bispo do Rosário(*) Em 1938, duas noites antes do Natal, Arthur Bispo do Rosário é tomado por uma aparição. Nela, surgem sete anjos azuis, e Arthur Bispo interpreta ser ele próprio o enviado de Deus à terra, encarregado de julgar os vivos e os mortos. Aguarda, pelo resto da vida, o momento supremo do encontro com Deus. A partir de então inicia sua grande obra de reunião de significados (oferendas), que deverá portar aos umbrais da eternidade, vestindo o principal deles, o chamado Manto da Apresentação. É um enviado, segundo crê, investido desta grande tarefa que o ocupará até o fim de seus dias, a partir de desiderato divino. Negro, pobre e discriminado, de pronto é enviado a um hospício do Rio de Janeiro, e pouco depois, diagnosticado esquizofrênico-paranóide, internado na Colônia Juliano Moreira. Conta, então, trinta anos. E ali passará boa parte do resto de sua vida, até falecer, em 1989, com oitenta anos de idade. Produziu uma obra extensa, marcada, resumidamente, de um lado pela elaboração de assemblages, técnica que consiste em reunir objetos, agregando-os entre si, de modo a conferir-lhes significados, e, de outro, pela execução sistemática do coser de frases e mensagens, predominantemente na cor azul ( a cor celeste, divina, reveladora da pureza da Virgem Maria, da qual Arthur era devoto ), com linhas extraídas do desfiado de uniformes de mesmo matiz, descartados na colônia manicomial. Arthur Bispo do Rosário não soube, assim como a crítica de arte não reconheceu a justo tempo, que foi ele o primeiro grande artista brasileiro contemporâneo, adiantando-se mesmo a Lygia Clark e Hélio Oiticica, sendo estes mais conhecidos, ainda que mais jovens, por terem tido suas obras largamente exaltadas pela mídia. A obra de Bispo, interno de um manicômio, ao contrário, só viria ao conhecimento público muito mais tarde. Não se estabelece aí, entretanto - em minha opinião -, uma comparação valorativamente equilibrada, pelo fato de que Bispo é um artista cuja criação advém de estímulos blindados por sua reclusão. Criou - se pudermos classificar assim -, uma arte disponível, isto é, trabalhava com os materiais que encontrava ou explorava nas precárias condições de internação, que conheceu em períodos alternados por cinco décadas de sua vida (de 1938 a 1964, de forma intermitente, e de 1964 até 1989, ano de sua morte, de forma definitiva ). Estes elementos não eram adquiridos por encomenda organizada que lhe oportunizasse opções amplas para criar, mas os únicos disponíveis dentro de seu mundo de confinamento no manicômio. Na metódica construção de sua obra, Bispo apropria-se, assim, não de matéria-prima convencional, mas apenas daquela rarefeita e existente em seu pequeno universo geográfico, a Colônia Juliano Moreira. E em sua cela, para onde traz estes elementos, assim como um avaro guarda o seu tesouro num esconderijo, cria o seu mundo artístico particular, redundante de si mesmo em dimensões, mas vasto em seu afã de liberdade. Com tais elementos, preciosidades raras num universo de confinamento, Bispo construiu – assim penso - sua “fórmula” de pulsão de vida. Botas de borracha, colheres, xícaras, pedaços de madeira e tecidos serviram de matéria-prima de uma arte que não se pode classificar por representação, mas, em essência, uma arte construtivista, digna de Torres Garcia, Braque e Joan Brossa, apenas diferente em sua mensagem. Se em Torres Garcia encontramos uma mensagem semelhante àquela do espectador consciente, descritiva da urbe, por exemplo ( La ciudad sin nombre ), ou se em Joan Brossa percebemos um exercício irônico e iconoclasta, em Bispo deparamos com um discurso vocativo, profético e apocalíptico fundado na premissa divina de sua função terrena. A arte construtivista é erigida a partir de materiais naturais e sintéticos oferecidos pela industrialização, isto é, uma arte já em alguma extensão feita, sendo que seu significado nascerá, desde o princípio, da gênese mesma do objeto, ou de uma diretriz visualmente construída pela união, junção e superposição de materiais que já trazem consigo parte intrínseca da mensagem. Nela, o artista necessariamente “dialoga” com o material, que utiliza de acordo com suas vivências, sua memória emocional e sensorial. Estes materiais não deixaram de significar para Bispo os seus verdadeiros aliados, seus companheiros de existência, seus filhos diletos. Lembremos que o artista “conversava” com suas obras antes que estas itinerassem por exposições. Advertia-as a se comportarem e não sucumbirem às tentações mundanas. Lembremos também que em Bispo do Rosário não tratamos de Arte Bruta, tão característica dos psicóticos. O artista conserva noções de perspectiva e fundamentos da arte convencional, sem que ela propriamente assim possa ser considerada. Bispo tampouco freqüentou sessões de terapia ocupacional, a exemplo de integrantes do Museu do Inconsciente ( vide Nise da Silveira ), e nunca submeteu-se a qualquer análise. Sua arte é plenamente idiossincrática; não representa a academia, não tem a ver com quaisquer movimentos em voga de seu tempo, não é perpassada por influências de modismo ou mercado, e o próprio Bispo não se considerava artista. Recluso em manicômio a grande parte de sua existência, Bispo do Rosário é um autóctone de seu próprio território mental, puro em si mesmo, e, talvez por isso, como acreditava, produziu uma obra igualmente pura, digna de Deus. É também a obra de Bispo, em largo senso, estruturalista, pois utiliza a palavra, não a dita ou tradicionalmente escrita, mas aquela meticulosamente bordada em sentenças codificadas que, entretanto, em alguma extensão, apesar da questionável normalidade de “nós outros”, terminamos por reconhecer como possíveis manifestações nossas, e mesmo delas nos apropriamos de alguma forma. Por suas características, e num exercício de transversalidade, poderíamos formalmente comparar a obra de Bispo com as de outros artistas que, como ele, viveram as agruras do confinamento, ou mesmo apenas circunstanciais fases de depressão. Mas serão apenas nuanças a considerar nestes casos, tais como a repetição, a monocromia e a geografia em que se insere – sempre mentalmente – o artista. Georges Seurat, fundador do pontilhismo, por exemplo, apresenta uma obra construída pela repetição de milhares de pontos em diferentes cores sobre o suporte, dando forma ao objeto. Ora, a repetição é uma forte característica na obra de Bispo do Rosário, mas entre cada um daqueles compulsivos pontos de bordado se produz um denso raciocínio no lugar de um simples e mecânico ato ocupacional. Tomemos Armando Reverón, célebre artista venezuelano que esteve internado por muito tempo, optando finalmente por viver numa casa que construiu sobre uma árvore, onde edificou suas fronteiras geográficas - assim como Bispo o fez em sua cela -, e que apresenta-nos vários exemplares monocromáticos de uma obra por vezes considerada minimalista. O gesto minimalista não deixa de ser uma renúncia velada à vivência dos estímulos convencionais. É uma espécie de regressão conduzida aos poucos por uma linha de Ariadne até as origens da simplicidade. Edvard Munch, o autor de “O grito”, durante décadas produziu inúmeras versões de desenho, gravura e pintura de um mesmo retrato chamado “A menina doente”, em referência a uma irmã que perdera, ainda na infância, vítima de tuberculose. Edvard Munch era um homem profundamente depressivo. Sua obra tinha este caráter de insistência e repetição temática, aqui não pelo gestual, mas pela insistente reprodução memorial do trauma. Mas falávamos de Bispo do Rosário, cuja obra não é a de um Reverón, sob o prisma minimalista, nem a de um Munch, repetitiva e carregada da depressão de “um ser dito normal”, e menos ainda a de um Van Gogh, que poderíamos arrolar entre casos que tais, por seu gestual único, inimitável. Para resumir, pinçando dois casos de esquizofrenia, na fase minimalista de Reverón as cores são brandas e a mensagem do artista é suave e plana, quase invisível. Em Bispo do Rosário, as cores, apesar de limitadas, o são pela indisponibilidade de matéria prima. Já o artista profere um discurso veemente e até mesmo invasivo sobre nossa percepção, imprimindo a carga de sua vivência de marinheiro, de boxeador, de enxadrista e de leitor assíduo, exibindo razoável cultura e deixando vazar, malgrado sua condição mental, “certa normalidade”, assim como entendemos esta. Com os estandartes de suas Misses, por exemplo, Bispo funda uma geografia possível para si - e para nós -, porque não distanciada da realidade, e reproduz em detalhes, surpreendendo nossa cultura e memória, os nomes de países, cidades e locais reais que configuram, em suma, o nosso mesmo universo. Com seus singelos tabuleiros de xadrez, percebe o espaço e suas soluções, ou ainda, suas “possíveis saídas” ou “escapes” para o que apropriadamente, referindo-se à situação reclusa de Bispo do Rosário, situa a curadora da exposição, Helena Severo: “este universo onírico que configura aquilo que Freud chamou de “retirada de interesse pelo mundo, que, no limite, conduz ao abismo psicótico.” Por fim, entre todas as classificações imagináveis, e no que toca à percepção imediata, a arte de Bispo do Rosário encontra a mais importante delas: trata-se de uma obra poética, reveladora de inegável estética e repleta de significados que tomam e comovem o espectador. Paulo César do Amaral Outono de 2012 (*) Texto do autor, exprimindo o seu ponto de vista, como base para a reflexão do debate de 27 de abril de 2012, sobre a exposição de Arthur Bispo do Rosário, no Santander Cultural, Porto Alegre. Bibliografia: HODIN, J.P.. Edvard Munch GARCIA, Torres. La Ciudad sin Nombre LAZARO, Wilson, SEVERO. Helena. A poesia do fio

quarta-feira, 4 de abril de 2012

AQUELES NAVIOS PARAGUAIOS

Eu sou contra a retirada daqueles dois navios paraguaios que resistem em nossa orla há já uns quinze anos. Parecem decadentes, como se diz de tudo o que seja velho. Parecem ser desbotados, com suas torres de tintas descascadas, enferrujadas, carcomidas pelo tempo. Dizem que não somos nós, mas estes barcos que poluem o porto da cidade, embora eu não acredite no verdadeiro impacto que isso possa causar diante de tantas outras mazelas ao nosso redor. Suas torres, vistas daqui do meio da rua, ou por quem chega à cidade pela rodoviária, mais ou menos elevadas segundo a maré, ainda nos permitem lembrar que por trás daquele muro horrendo da Avenida Mauá existe um rio chamado Guaíba. Um rio que mesmo crianças de rua do Centro Histórico mal conhecem. Um rio que mesmo adultos já não vêem. Um rio que muitos já esqueceram. Querem vender os navios como sucata. Querem que se os talhem de vez com o maçarico, querem negociar as suas partes. Para que o aço ressurja um dia, quem sabe nos corpos de outras naves modernas, mas que serão apenas naves modernas, sem passado, sem história, sem alegrias e sem dores. Não se fazem mais navios como aqueles paraguaios, em nada falsos. São de uma natureza poética tão sentida como a da época em foram erguidos. São tão nobres que carregam nomes de brigadeiros. Não, não se os destruam. Navios são como charutos. Nunca se os apagam de um golpe. Ao invés, se os deixam morrer por si, depositados gentilmente em cinzeiros. Eles precisam fenecer com a dignidade de um velho guerreiro que por toda a vida serviu ao seu senhor. Deixem aqueles navios ali para que afundem, pouco a pouco, um milímetro a cada dia. E ao final, quando suas torres não mais se sustentarem sobre os cascos corroídos, que elas adernem à nossa vista acostumada só a ver as coisas cotidianas, habituadas a calcular os dividendos da sucata, nossas mentes incapacitadas de enxergar poesia no estertor dos ferros. Deixem aqueles navios ali, que eles ainda têm muito a nos dizer sobre a decadência que nós somos.

sábado, 28 de janeiro de 2012

Porto Alegre no verão

Nada como Porto Alegre no verão. Cidade vazia, sinto-me como em minha cidade nos anos 60. Tudo quieto, sem e-mails, sem compromissos e tempo para pensar. E pintar.
Porto Alegre ( no verão ) é demais.

quinta-feira, 3 de novembro de 2011

POBRE DO RIO GRANDE II

Eu peço licença ao José Antonio Pinheiro Machado para usar o título de uma magistral crônica sua, publicada em Zero Hora de 23 de outubro. Nosso querido Anonymus Gourmet, como é conhecida esta figura única de nosso meio, referia-se às mancadas de nossos dirigentes políticos em relação às providências visando à realização da Copa das Confederações, infelizmente para sempre perdida, e já sinalizava uma advertência às ações em curso relativas à preparação para a Copa do Mundo. Explicou tintim por tirintintim a gênese de nossa arrogância, sempre baseada naquelas façanhas que deveriam servir modelo a toda a terra. Esta foi a minha leitura. E agora eu tomo emprestado o título da crônica do Pinheiro Machado para comentar a vinda de Ronaldinho para jogar contra o Grêmio ( meu time ), que resultou na acachapante e merecida derrota do Flamengo. Isso no que concerne ao esporte em si. Mas lemos por aqui tantas crônicas esportivas referindo uma revanche pessoal contra aquele jogador, que só fazem reverberar este espírito incorrigível do gaúcho, baseado, sobretudo, numa memória revanchista. Mais do que o resultado do jogo a favor do Grêmio, prevalecia o desejo de uma vingança moral, ainda que tardia, contra o jogador ingrato, cria tricolor que escolheu jogar no Flamengo e não no Grêmio, isso há mais ou menos um ano. Como se ele não poderia ter exercido o direito de optar pelo time em que deveria jogar após ter sido consagrado um dos maiores atletas do mundo. Escolheu o Flamengo, para não se dizer aqui que escolheu o Rio de Janeiro. Sabemos muito bem quantos cientistas, artistas, atores e escritores deixam o Brasil para prestar seus serviços no exterior, onde são mais bem acolhidos e mais bem pagos; ou quantos atletas de todas as modalidades vão para a Europa em busca de fama e da própria realização. Ora, por que razões haveria Ronaldinho de ficar aqui no Rio Grande quando alhures tinha uma oferta que mais lhe convinha ? Bem, é verdade, diz-se, que toda esta celeuma deve-se em parte ao fato de que o craque blefou enquanto andava em tratativas com os dois times sem decidir-se por nenhum. Mas, que eu lembre, ele não tinha empenhado palavra nem aqui nem acolá, e buscava uma posição que lhe fosse mais conveniente. E que jogue a primeira pedra aquele que, frente a uma decisão transcendental da qual depende seu futuro, não haja no seu próprio interesse. Enquanto ficamos aqui lambendo as chagas de feridas antigas, alienados de ações concretas, relevantes e urgentes, esquecemos que vai correndo o tempo que nos levará (?) à Copa do Mundo, em 2014, ou seja, o amanhã logo ali. Estamos preparados para receber estrangeiros com quem teremos de nos comunicar em outras línguas ? Nossos serviços serão condizentes com a demanda do importante evento ? Pergunto porque, além de devermos assegurar boas instalações em todas as áreas, teremos que nos ajustar a muitas circunstâncias, a começar pelos preços hoje em dia globalizados, que lá fora estão bem mais em conta do que os daqui, e não é porque o dólar está em baixa cotação ainda, ou porque o euro vive numa zona de risco, mas porque os nossos preços são mais caros na base de cálculo, isso sem falar na pobre qualidade de nossos serviços em geral, indiscutivelmente discutíveis. Basta viajar um pouco para se ter uma vaga certeza disso.

quarta-feira, 26 de outubro de 2011

E CORRER, PODE ?

A peça publicitária em que Gisele Bündchen aparecia em lingerie, tentando obter a compreensão do marido - parece mentira -, ocupou tanto espaço dos órgãos responsáveis por considerações reguladoras de um sistema pretensa e politicamente correto, se é que podemos dizer assim. Foi mais um ato da ineficiência dessas repartições que não têm mais nada o que fazer. Na prática, terminou por impedir a exposição de alguma coisa que ao menos faria bem aos olhos e à alma, muito mais que tantas obras de arte que andam por aí, e nem de perto comparáveis à obra-prima-viva que é a Gisele, ainda mais em lingerie. O ato faz parte dessas investidas da burocracia brasileira que, mergulhada num mundo de faz-de-conta, deixa de ver – e de fazer - o que realmente interessa. Em matéria de publicidade, pouco se fala sobre peças que contêm forte estímulo ao consumo de álcool, ao mesmo tempo em que de outro lado institutos e fundações procuram desesperadamente coibir os acidentes causados pela bebida. Indo por aí, deparamos com outro assunto afim, sobre o qual nada se fala: a publicidade de veículos, em geral grandes e potentes camionetes com seus donos que dirigem perigosamente e que por vezes falam no celular ao volante. Quem me chamou a atenção sobre isso foi meu irmão mais novo, que perdeu sua primeira filha num acidente de carro. Subliminarmente eu já concordava com a idéia, mas passando a observar melhor, percebi que na prática todas as peças publicitárias sobre veículos contêm imagens de camionetes que saltam montanhas e que transpõem obstáculos inimagináveis. Ou de automóveis que andam perigosamente a toda velocidade dentro da cidade. E de motoristas que fazem “pega” em subsolos de edifícios. E de outros que estacionam em alta velocidade dando um bem sucedido cavalo-de-pau. Tudo isso como nos filmes de ação a em que polícia corre atrás do bandido. Alguma imagem de um automóvel em baixa velocidade, passeando pelo campo, por exemplo, com um casal observando a natureza antes do piquenique que vai fazer, algo assim contemplativo como a Gisele Bündchen em lingerie, alguma coisa que realmente faça bem aos olhos e à alma, nem pensar. Acho que já é tempo de nos ocuparmos deste assunto, quando mais não seja para, a exemplo das peças publicitárias apregoando o charme do drink do final do expediente, pelo menos aplicarmos em correspondência alguns dizeres ao final da propaganda, como: “Se for dirigir, não corra”. Será mais uma hipocrisia, isso sabemos, mas pelo menos poderemos dizer, como no caso da bebida alcoólica, que houve tanta preocupação sobre este assunto quanto sobre o da Gisele em lingerie.

quinta-feira, 8 de setembro de 2011

O PAÍS DA COPA

O PAÍS DA COPA
Minha colega Maria Tereza teve de cancelar sua viagem ao exterior, pelo que solicitou ao Programa Smiles a transferência do vôo para outra data. Então disseram a ela que havia uma taxa a ser paga, mais precisamente a taxa de embarque que, na primeira reserva, ela já tinha pago. É claro que ela ficou indignada, apesar de o valor ser de apenas uns R$ 40,00. Mas não é o valor o que incomoda Maria Tereza, e sim o fato de quererem cobrá-lo novamente. Se ela não embarcou, não se produziram, proporcionalmente a sua pessoa, as despesas de embarque respectivas. Então, por que pagar duas vezes pelo que não se consumiu mais do que uma vez ? - Com quem fica este dinheiro ?, pergunta Maria Tereza. Assim são as companhias aéreas. A TAM, em seu programa de fidelização, deu um verdadeiro calote em seus clientes ao unilateralmente decidir pela exigência de duplicação de pontos para se exercer o direito de vôo em alguns trechos. Isto é, o passageiro acreditou na empresa e dela tornou-se cliente fidelíssimo. Depois veio a imposição descabida da TAM. E o cliente ? Ficou na mão ? Só se quiser, pois este é o tipo de atitude que até o contínuo da faculdade de Direito sabe que não passa sem reparação num tribunal. Isso acontece no país que receberá a Copa, onde, no Rio de Janeiro, por exemplo, o Aeroporto de Congonhas, em sua ala antiga, só tem banheiros no andar superior e nos quais não há fechaduras nos compartimentos de privadas. - Gague-se com uma promiscuidade dessas ! Eu, por exemplo, não consegui, e como tinha muito tempo de sobra, resolvi tomar um ônibus do aeroporto para o Leblon. Como não havia placas indicativas, perguntei a um guarda municipal que monitorava o trânsito de chegada e saída do aeroporto. Ele me disse que era um ônibus amarelo. - Amarelo ?, perguntei, pois já avistava dois, e cada um com dizeres diferentes. Fui aos dois, e não era nenhum. O motorista do último me informou que era um ônibus azul, e o primeiro que avistei, depois de longa espera, continha aqueles dizeres luminosos indicando o itinerário: Flamengo, Copacabana, Ipanema, Leblon, Barra... Como outros passageiros que estavam ali perdidos havia já algum tempo, desloquei-me para entrar no ônibus. Mas fui atrás de todos e ainda resolvi perguntar, na dúvida: - Vai para o Leblon ? E o motorista respondeu: - Não, este vai para o Galeão. Os passageiros desceram indignados, mas havia alguns estrangeiros, japoneses, que não disseram nada. Apenas apearam, amparados por passageiros que falavam inglês e explicaram o que se passava. Voltamos à parada. Mais tarde, veio outro ônibus azul com aqueles mesmos dizeres: Flamengo, Copacabana... Mas este deu certo, este era o correto. Há outro problema muito sério, que merece capítulos: os preços cobrados nos serviços de aeroportos: lancherias, farmácias, livrarias, em geral tudo mais caro ao menos duas vezes. E de qualidade indiscutivelmente inferior. Experimente comprar um pacotinho de Halls em qualquer aeroporto. Sai de duas a quatro vezes mais, dependendo do lojista ou da cara do cliente. Este é um assunto gravíssimo que só não há de espantar turistas porque eles já terão chegado e não terão opção de desistir de enfrentar o país da Copa. Há muito que fazer além das obras que receberão a Copa, sobretudo na infra-estrutura de educação e civilidade. Precisamos urgentemente de mais um PAC só para este fim. Mas aí...

sábado, 13 de agosto de 2011

LEGADOS DE IANELLI, matéria escrita para o Joirnal ZERO HORA, publicada em 13 de agosto de 2011



Contemplar a obra de Arcângelo Ianelli equivale a passear pelos melhores caminhos da arte brasileira guiado por quem sempre ocupará privilegiado assento entre os grandes mestres da pintura e da escultura. Ianelli trilhou uma carreira visivelmente gradativa, construiu uma obra Suo tempore, sobretudo coerente e plasmada no profundo conhecimento das cores que soube distribuir sobre telas de rara plasticidade. É, em resumo, um artista digno de ser exposto nos maiores museus do mundo. Estes, muitas vezes, apresentam espaços exíguos, o que os obriga a formar acervos limitados, e de forma geral dispõem de verbas minguadas, que os impedem de adquirir novas obras. Mas estas circunstâncias, considerando Arcângelo Ianelli, não justificam que se refutem obras-primas de artistas de sua densidade. No ano passado, o Museu de Arte Moderna de São Paulo (MAM), do qual Ianelli foi estreito colaborador durante sua vida, e de cujo Conselho participou intensamente, rejeitou 14 das 16 obras deixadas em testamento pelo artista, falecido em 2009. A alegação do MAM foi de que eram redundantes em relação a outras do mesmo Ianelli já existentes no acervo da entidade. À polêmica, amplamente discutida pela imprensa do centro do país, estarrecidos com a decisão do MAM, juntaram-se vozes respeitáveis como as de Ferreira Gullar, Fábio Magalhães e Emanoel Araújo. Também ao MARGS, que não possui nenhum exemplar de sua obra, Ianelli legou 15 expressivos trabalhos, dentre os quais duas primorosas marinhas pintadas a óleo, datadas de 1958, quando o artista encontra o esplendor de sua preciosa fase figurativa. Estes quadros estão catalogados no livro IANELLI – Os Caminhos da Figuração, editado pela FAAP por ocasião de uma retrospectiva do artista, ocorrida no Museu da Arte Brasileira, em 2004. Outra tela doada ao MARGS (óleo nas dimensões 2,00mx2,50m), pertence à fase mais conhecida por Vibrações, na qual o artista coroa sua extensa carreira, esbanjando absoluto domínio da luz e dos efeitos de transparência. As demais obras são sete pastéis sobre papel, quatro gravuras e uma escultura, todas elas igualmente importantes. Trata-se, em poucas palavras, de uma seleção ampla e expressiva da trajetória de Ianelli, capaz de sozinha sustentar uma exposição gloriosa. Entretanto, estas doações, ofertadas há mais de um ano e meio, ainda não participam do acervo do MARGS pela falta de recursos da entidade para o pagamento de um imposto de transmissão de valor pouco inferior a R$ 8.000,00. Este caso, paradoxal por sua natureza, suscita uma reflexão sobre o descaso dos governos para com a Cultura em geral. Num Estado como o nosso, em que o orçamento destinado à área mal alcança meio por cento do geral, torna-se difícil chancelar a seriedade da gestão pública que não valoriza uma generosa doação de bens avaliados em torno de meio milhão de reais e que não é acolhida por ser indisponível irrisória cifra para o pagamento de uma simples taxa. O fato reproduz um pouco a história da administração pública do Brasil, onde é comum acontecer que se percam projetos e oportunidades por “decorrência de prazo”, isto é, um eufemismo para exprimir inépcia. As obras de Ianelli foram indiscutivelmente aceitas pelo núcleo de acervo do MARGS, ao contrário do que se passou no MAM de São Paulo. Mas remanesce, fruto de uma política equivocada do governo em relação à história de um museu com mais de meio século de existência, uma pendência tão prosaica quanto inaceitável. Alguma solução poderia vir da Associação de Amigos do MARGS, suporte financeiro do museu, entidade que há alguns anos, através de um organizado trabalho junto a mecenatos, logrou adquirir um pequeno acervo em número de peças, mas rico em conteúdo, no qual pontificava uma estupenda tela de Guignard. Cabe à Associação de Amigos procurar recursos para cumprir metas do cotidiano - e ressaltemos que esta não é uma meta do cotidiano, mas uma ação que, a um custo simbólico, pode significar a aquisição da década para o acervo do maior e mais importante museu de arte do Rio Grande do Sul. O risco que corre o MARGS em acabar não recebendo as obras de Ianelli é maior do que se possa imaginar, porquanto a família do artista aguarda o pagamento do imposto de transmissão para o efetivo encerramento do inventário. Até quando poderão os doadores, por interesse próprio ou por imposições legais, manter em aberto este processo ? A decorrer algum prazo retardatário além do admissível, estas obras poderiam ser oferecidas a outros museus nacionais e estrangeiros que as receberiam com festas de foguetório, como o fizeram o MASP, a Pinacoteca e o Museu da Arte Brasileira, todos de São Paulo. Raramente ocorre a oportunidade de um artista do quilate de Arcangelo Ianelli legar grupos de obras a entidades, e menos ainda seus testamenteiros insistirem em levar tal missão ao cabo. Estas considerações terminam por evocar outra, de caráter institucional. Museus no mundo inteiro cobram ingressos para a visitação, muitas vezes estabelecendo diferentes classes de tarifas de acordo com a importância e o número de exposições exibidas. A França, onde os museus nacionais são congregados por uma só entidade, a Réunion des Musées Nationaux, isso é tratado assim na integralidade. No Reino Unido, excepcionalmente, há algumas políticas de gratuidade, mesmo em casas importantes como a Tate Britain. Mas a opção do Estado inglês em subsidiar estas visitas é compatível com a devida contrapartida financeira por ele alcançada aos museus que não cobram ingressos. Aqui, diferentemente, o Estado não se interessa por dotar museus de verbas compatíveis com um funcionamento digno. Não é difícil compreender este tabu da não cobrança. Ele está preso a um antigo conceito de Estado paternalista em que prevalece a noção de que a arte é ainda-e-para-sempre incipiente, e que cobrar ingressos de um público específico significaria uma afronta a toda luia sociedade. Uma grande falácia. No caso da doação Ianelli, por exemplo, o imposto de transmissão já há muito tempo teria sido pago com recursos diretos de ingressos. A cobrança, mesmo que simbólica, e excetuados alguns casos como os de estudantes e idosos, por exemplo, valoriza os museus ao mesmo tempo em que move a economia da cultura: para os museus, mais acervo, mais publicações, melhores condições disponíveis ao usuário e, por consequência, maior visitação; para os artistas, maior reconhecimento de seu fazer; para os marchands, melhores vendas e mais compras aos que produzem arte. É um ciclo saudável e compatível com a realidade de um país como o nosso, cujo governo se jacta de enfrentar crises econômicas com galhardia e incentiva o consumo a rodo. Que consumamos cultura, pois, e que possamos perceber o baixo custo para o enriquecimento da alma. Ars longa, vita brevis.


quinta-feira, 4 de agosto de 2011

CRÔNICA DE UMA IMPROBIDADE ANUNCIADA

E o Natal Luz, de Gramado, vai dar muito ainda o que falar. O senhor Luciano Pecin, que com sua arrogância sempre se julgou acima da lei, inclusive, agora vai ter de se explicar. Começou contratando um bom advogado, é claro, e é pela boca deste que falará, pois falar, ele próprio, só com muita cara de pau. Aliás, fica uma pergunta: O que tem a LIC a ver com o Natal Luz ? Como diz o Boris Casoy, ISSO-É-UMA-VER-GO-NHA !

NELSON JOBIM, O BÔBO DA CORTE

Ocupante de um ministério opaco, bem próprio para um dirigente que tenha um perfil enrustido como o ministro Jobim, terminou o mesmo caindo hoje, depois de bater de frente com a presidenta Dilma fazendo declarações insólitas e absolutamente desnecessárias, e, sobretudo, absolutamente dispensáveis por qualquer um. Razões para tal ? Somente alguma coisa relacionada ao narcisismo de Jobim, como se pudesse reverberar sua saída por conta própria ou exoneração de um ministério sem importância, e como se fosse grande figura da República. Grande figura da República é o safado do senador Romero Jucá que faz e acontece nas nossas barbas e não fazemos nada contra ele e este estado de coisas. Até, quem sabe, isso aqui vire um Egito...

segunda-feira, 9 de maio de 2011

quarta-feira, 4 de maio de 2011

Pode ou não pode ?

PODE OU NÃO PODE ?

Há quem não acredite que Osama bin Laden tenha morrido. Afinal, mataram a cobra e mostraram somente o pau. Faltou a foto. Da mesma sorte, houve gente que morreu sem acreditar que o homem tenha um dia ido à Lua. Ora, Osama bin Laden com certeza morreu no ataque relâmpago noticiado, até agora sem detalhes, pela TV. E Barack Obama não seria louco de ousar tamanha bravata, pois correria toda a sorte de riscos, principalmente o da não reeleição, agora aparentemente garantida. Imaginem se Bin Laden aparecesse amanhã como prova viva para desmentir... Mas o que de fato pode voltar-se contra os USA numa tragédia vingativa por parte de fundamentalistas islâmicos, o que pode vir a empanar aqueles breves e ilusórios festejos no Marco Zero, está a suscitar outras questões que pouco a pouco começam a ser discutidas pela comunidade internacional depois da sedimentação da breve poeira levantada pelos recentes fatos. Questões, sobretudo, de cunho ético. A primeira delas é: podem os Estados Unidos, sem o conhecimento do governo de um país estrangeiro, invadir o território deste e executar uma operação militar ? Afinal, vamos lembrar, Israel, por exemplo, já fez isso quando da invasão de Uganda na tentativa - bem sucedida - de libertar reféns judeus feitos por aquele país. Mas ali era outro o caso; tratava-se de uma resposta direta a um país agressor, que teve em seu ditador Idi Amin Dada o principal protagonista do evento. Era uma ação legítima de resgate, e não havia outra saída. Aqui foi fato diverso. O Paquistão não esteve na mira da ordem do dia da ação militar americana, mas sim Osama bin Laden, um refugiado, casualmente ( ou não ) no mesmo país. Mas afinal, pode ou não pode ? No caso dos USA – como sempre –, diz-se que sim. Vale a lei de Talião, “olho por olho, dente por dente”, o que significa em toda a sua extensão primitiva: “Osama nos atacou, nos humilhou, e nós o matamos”. Razões para intuir tal pensamento, é claro, não faltavam. Trocaram um só assassino por quase três mil vítimas do World Trade Center fora centenas de outras vítimas de ataques terroristas comandadas por Bin Laden. O terrorista, inimigo número 1 da América, não era mais uma ameaça. Era um fetiche semi-vivo, pois estava virtualmente aprisionado, apenas numa mansão, e não numa cadeia. Outra pergunta, esta de caráter menos urgente, mas ponderável sob o olhar religioso: podem os Estados Unidos encomendar o corpo de um assassinado inimigo sob uma oração muçulmana proferida em inglês e traduzida, sabe-se lá por quem, para o árabe ? E depois jogarem o algoz ao mar ? Os USA, como sempre, tudo podem, e a ONU que se lixe, ou que os apóie num rito ratificador depois do feito, pois isso não fará a mínima diferença. Agora, imaginemos a situação contrária. Poderia ? Aí não, é claro. Não há dúvida de que Obama tem sido mais prudente do que Bush em suas ações militares, mas a aceitação pacífica destas atitudes perpetradas em nome do bem contra o mal, como se fosse assim tão cristalino distinguir entre ambos, fazem com que deixemos de exercer, em nome da razão mais elementar, uma análise menos apaixonada e mais judiciosa. A correr por aí como as coisas têm acontecido, a se apregoarem argumentos assim validados, a se manterem prisões ilegais mundo afora, como na Polônia e em Guantanamo, onde prisioneiros eram torturados ( não o serão mais? ), os Estados Unidos, na suposição de defenderem seus interesses diretos, continuam legando ao mundo uma lição de democracia perversa e destoante com as tradições da Declaração da Independência sob Thomas Jefferson. Como diz o vulgo, “ uma coisa é uma coisa, outra coisa é outra coisa ”. Mas para a América não parece. E nem precisa.

quarta-feira, 27 de abril de 2011

quarta-feira, 13 de abril de 2011

de Machado de Assis

"...um dos ofícios do homem é fechar e apertar muito os olhos, e ver se continua pela noite velha o sonho truncado na noite moça ".

sábado, 9 de abril de 2011

de Gabriel García Marquez

"La fuerza invencible que ha impulsionado al mundo non son los amores felices, sino los contrariados ".

sexta-feira, 8 de abril de 2011

de Federico Fellini

" Ä televisão é uma corruptora astuciosa que apaga nossa capacidade de julgamento e simula um mundo sintético que devemos assimilar. Pior ainda: que queremos assimilar "

quinta-feira, 7 de abril de 2011

Sem palavras

Se pudesse aconselhar alguém, pediria que não assistissem aos noticiários de hoje em relação à chacina de crianças em uma escola no Rio de Janeiro. Não é fato para nos envergonhar a nós brasileiros, mas à raça humana mesma. Um serial killer, um desatinado delirante, é só isso, percebo agora, eu que criticava atitudes assim nos USA e na Europa. Será que me tornei apenas um pouco mais humano ?